sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Les Memoires - As memórias 2 - Momento Bolinho de chuva!

Hum… os momentos que formaram minha memória gustativa consciente... rsrsrrs
Acho que isso está mais relacionado com as sensações que os gostos provocam do que qualquer outra coisa, gostos e texturas... Se fecho os olhos e penso na minha infância, logo de cara vem uns 5 momentos, momentos que ajudaram a formar essa cozinheira que voz fala... Para ler o primeiro texto sobre essas memórias, cliquei aqui.
O primeiro é o momento bolinho de chuva! Ahhh o bolinho de chuva... férias de Julho, na casa de campo em indaiatuba, que erroneamente sempre nos referimos como “o sitio”, mas que não é um sítio... rsrsrsr
Passávamos o mês todo lá,eu, meu irmão, Beto, e meus primos, um time que embora mutável geralmente consistia na mesma turma: Nati, Nati, Bruno e Gui, e invariavelmente algum agregado, com  a minha babá, a Bá! Eu lembro de detestar essas férias, odiava me despedir dos meus pais no domingo e saber que eles vinham para São Paulo e que eu ficaria lá, eu sofria, haha como toda criança sofre sabe? Como se aquilo fosse o fim do mundo! Chorava, muitas vezes ficava em prantos até dormir...
Mas eu me divertia muito, e quando não estava me divertindo, ou o frio, ou a chuva se tornavam um empecilho para a brincadeira,  aparecia a Bá, com um monte de bolinhos de chuva quentinhos, recém passados no açúcar, eu comia fácil fácil uns 15! Era o momento que eu sabia, que até quando as coisas não estavam muito bacanas, aconteceria algo que deixaria tudo incrível novamente, até alguém começar a brigar porque um pegou mais do que o outro... hahah..
Os bolinhos de chuva da Bá... O maior Gourmet do mundo pode se materializar na minha frente, com a garantia de que fará os bolinhos de chuva que se Deus come que eu saberia que eles ainda não chegariam aos pés daqueles bolinhos de chuva...
A massa sendo feita, e todos de olho, sabíamos, aguardávamos, o óleo esquentando, os bolinhos sendo jogados no óleo,  afastávamos ao anuncio de que “dia espirrar”, aquele som, você sabe, o som de fritura, um dos melhores sons que existem na terra, ahhh a espera é cruel! Crianças aprendem a ser adultos esperando guloseimas ficarem prontas...desde pipocas até bolos assarem, aprendem a esperar, lidam com a frustração de que as coisas tem seu tempo, e que temos de respeitá-lo, isso é cruel... Enfiem, bolinhos branquinhos, bolinhos marronzinhos, escumadeira em punho, e eles começavam a ser resgatados do líquido mágico que os tornava comestíveis... Papel chuga e piscininha de açúcar eeee Voilá!
Primeiro que eles eram anunciados pelo cheiro que os precedia, e ansiedade tomava conta do ambiente, tinha que esperar esfriar, mas não muito, não pode comer a massa crua, dava dor de barriga (mentira que adulto conta pra criança!!!), banhá-los no açúcar, e o cheiro doce inebriava a todos que estivessem alí, crianças em transe inalavam a fragancia do anúncio do paraíso,  ao som do “com calma, tem pra todo mundo, tudo bem, pode pegar..” o ataque era feroz, malabarismos eram ensaiados na tentativa de segurar mais de 5 bolinhos em uma mão...rsrsrs como se fosse necessário...
Eles eram macios, leves, uns mais queimadinhos, outros mais branquinhos, como os bolinhos de chuva de quem cuida de 6 crianças devem ser.. As “pontinhas” que formavam quando a massa era colocada dentro do óleo para fritar ficavam crocantes, e o açúcar em volta deixava de ser só açúcar, era algo mais... era uma riqueza disputada literalmente a tapa por 6 crianças..
As mordidas eram ao mesmo tempo que aproveitadíssimas ao som de Hummmmssss  e com olhinhos fechados e ansiosas, loucas para que o bolinho durasse para sempre, mas torcendo para que ele acabasse logo para que você pudesse pegar o próximo...
Lembrando desses momentos eu morro de rir, e fico nostálgica também, penso que eu deveria ter mantidos meus olhos fechados por mais tempo, e não tido tanta pressa me pegar o próximo, mas sabe de uma coisa? Se não fosse assim, talvez não tivesse se tonado o momento, e sim só um momento.
Abençoada seja a Bá, por seus bolinhos de chuva, sua paciência, e seu amor. Abençoados sejam meu irmão, meus primos e os agregados, abençoado seja todo o meu passado!
Eu nunca soube porque Bolinhos de Chuva se chamam Bolinhos de chuva... pra mim sempre fez muito sentido que ele funcionasse como o intervalo perfeito entre uma brincadeira e outra, e esse intervalo era quase sempre relacionado a mudança do clima... o bolinho da hora que chove...pra ninguém ficar triste...hummmmmmmmmmmmmm
E aguarde... mais posts de momentos viram por aí... é a memória gustativa...

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